quarta-feira, 5 de março de 2014

José - Carlos Drummond de Andrade

Olá leitor, hoje venho postar um poema de um dos meus escritores favoritos. Carlos Drummond de Andrade, mineiro de Itabira do Mato Dentro. Metódico, com medo de invasões pessoais, um sujeito simples e genial.

José 
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

O poema fala da incapacidade, de quando o mundo vai para um lado e você vai para o outro. Como se estivesse perdido, solitário, somente marcha para a frente, sem destino e sem rumo, somente marcha. 
José, alter ego de Carlos se sentia assim pelo período de Guerra e Repressão da Segunda Guerra, e o Governo Vargas. José marcha como se não pudesse parar, não pode abandonar a carreira, tem que seguir. E que a poesia sempre está presente em todos os momentos, em especial, nos difíceis.

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abraços

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